Dentro do carro, em volta de campos e
uma rodovia deserta ao horizonte, Max McQueen estava descrente que a mudança de
escola fosse adequada a ele. Há alguns dias seu pai, Lewbert McQueen foi despedido
do emprego de escritor e assim, toda a família teria que mudar de cidade, pois
ele tinha recebido uma oferta boa de emprego, ou seja, largar os costumes e se
adaptar a uma nova rotina. A Sra. Elizabeth McQueen, mãe de Max, é analfabeta e
por isso só faz serviços domésticos na própria casa e cuide para que os filhos
tenham uma boa educação e uma carreira decente, algo que ela não teve. Max tem
dezessete anos, e seu irmão, Kim, sete. Ambos ficaram tristes com a mudança,
porém, foi o único método de ainda ter seus cereais e achocolatados sobre a
mesa, afinal, um escritor de histórias verídicas sobre crimes brutais (Max já
leu algumas crônicas escondido de seu pai), não recebe lá essas coisas.
É o ultimo
ano de Max no colegial e, portanto, o ano em que ele deve passar na prova para entrar
na faculdade. Ele sabe que a mudança de escola vai modificar sua vida
acadêmica.
Ao decorrer
da viagem, seu pai dirigia em um carro popular (que duraram dez anos o
pagamento das prestações), sua mãe fazia tricô no banco ao lado do motorista,
Kim brincava com um carrinho fingindo que estava dirigindo ao redor do Sistema
Solar, e Max escutava uma banda de Rock nos fones de ouvido de seu celular.
A viagem era
longa. A única distração era ver a paisagem exibindo as características de um
verão, escutar suas músicas e pensar como será a nova vida. O sol estava se
pondo. Sua mãe virou-se para Max e disse na quebra do silêncio:
- Já te
matriculei na nova escola. As aulas começam amanhã.
- Tudo bem –
disse ele pensativo.
Nesse meio
tempo, Kim olhou para seu pai e perguntou:
- Falta
muito para chegar?
- Não, a
cidade fica logo depois daquela colina – respondeu o pai apontando o dedo para
uma montanha cujo pico havia uma grande torre envolta de fios e uma cidade
iluminada logo atrás.
Já noite,
enquanto percorriam o contorno da montanha, Max pode perceber um conjunto de
luzes na sua frente e franziu as sobrancelhas e perguntou:
- Qual é o
nome da cidade mesmo?
- Halltown.
Algum tempo
depois, passaram ao redor de restaurantes e residências movimentadas e um
trânsito infernal. Eles chegaram. Entrando em uma rua, Lewbert falou animado:
- Vocês vão
adorar a casa.
Simplesmente
era uma mansão. Como ele conseguiu comprar aquilo? Eles não são ricos. Todos
ficaram se perguntando acanhados.
- Que foi?
Eu disse que tinha recebido uma oferta boa – disse o Sr. McQueen.
- Mas isso
não é uma casa, é uma mansão – alertou Kim enquanto sorria não acreditando que
aquele casarão a sua frente fosse de sua família.
- Esperem
para ver o meu novo salário – murmurou o pai enquanto deu um sorriso leve.
Max não
ficou tão satisfeito como os outros. Isso chamaria muita atenção. Os colegas da
nova escola ficariam curiosos e iriam acabar falando com ele, e na verdade, o
seu plano era não fazer amigo algum.
Isso
aconteceu há alguns meses. Max iria para escola normalmente, e devido às provas
finais da escola, ele ficou estudando até tarde da noite e, portanto, acordou
com tanto sono que ele não sabia se quem o acordou era sua mãe ou a Beyoncé.
Logo, tomou
banho, vestiu sua roupa e foi para a escola. Ao chegar, parou na cantina e
pediu um café para despertar. A prova era tão importante que o sono foi o
mínimo naquela noite, e que um café expresso valeu nada em seu vigor. Foi para
a aula encontrar seu amigo James e sua amiga Indiana. Eram seus melhores amigos
desde o jardim de infância e há alguns dias começaram a namorar. Só que, pelo
que Max soube, isso não estava dando muito certo. James era muito autoritário,
ciumento e odiava ser contrariado. Já Indiana odiava que mandassem nela.
Ainda com
sono, olhos caídos e não dando a mínima para o redor dele, chegou à sala. A
cena que havia foi capaz de despertar o sono, coisa que o café não pode fazer.
Não tinha
ninguém na sala. Ele consultou o relógio de pulso e percebeu que pelo horário
já deveria estar atrasado, mas não havia ninguém lá. Deu uma olhada pelo
corredor, e estranhou que os alunos estavam cochichando e correndo num mesmo
fluxo em direção aos banheiros, algo que ele não tinha visto anteriormente
devido ao sono. O que deveria estar acontecendo? Era um dia de provas, e Max
necessitava de realizá-la para passar na disciplina.
Ele foi para
os banheiros junto ao fluxo e ao notar um aglomerado de pessoas na porta do
local, sentiu um baque no peito como se se fosse em direção àquilo, o afetaria.
Ele já não tinha sono algum. Continuou andando. E viu que o aglomerado era
composto de alguns pais, a polícia, bombeiros, professores, a diretora e os
alunos que já haviam chegado.
Os pais eram
os de James e os de Indiana. Ao ver, não acreditou e começou correr. Ao chegar
ficou perplexo. Os pais estavam descontrolados e se debatendo com alguns
professores e policiais. Alguns alunos também estavam chocados e chorando.
Abriu um vão no aglomerado e logo viu a cena.
Ao entrar no
banheiro se deu conta que havia sangue por todo o chão e escorrendo pelo ralo e
pias quebradas jorrando água, inundando o chão. Havia dois corpos caídos no chão de onde era a
fonte de toda aquela sujeira. Um era Indiana com os cabelos soltos e a roupa
com um buraco no peito de onde vinha todo o sangue da roupa suja dela. Era um
tiro. Ela tinha uma expressão de pavor. Ao seu lado estava James com um buraco
de bala na própria testa, na mão, que estava sobre a barriga, ele tinha uma
pistola. Max começou a gritar.
- O que
aconteceu? O QUE ACONTECEU? – berrou Max enquanto os bombeiros recolhiam os
corpos.
- Calma,
calma – murmurou a diretora que não manifestava o mínimo de emoção – a gente
vai dizer tudo a você.
- “CALMA” O
CARAMBA! – respondeu ele enquanto seu rosto já estava umedecido devido ao choro
que se revelou – ME CONTEM AGO... – ele sentiu algo subir dentro de si mesmo ao
ver os corpos sendo retirados passando na sua frente e adquirindo uma imagem
tão grotesca que nunca mais iria esquecê-la, e vomitou no chão molhado.
Limpou a
boca com a manga da blusa e começou a berrar. Nunca chorou daquele jeito. E
sempre que se lembrava da cena ia ao vaso sanitário e vomitava.
Após algum
tempo, ao Max acalmar-se e tomar tantos copos d’água, foi para a sala da
diretora e escutar o que tinha acontecido junto aos pais de seus amigos. Ao se
acomodarem, a diretora explicou como se aquilo fosse normal e que nada a
afetava. Uma diretora comum.
- Bom, para
começar todos deve saber que a Srta. Indiana Stevens e o Sr. James Wilson estavam
namorando – ela se endireitou na cadeira e todos concordaram com a cabeça,
tristes.
- Na noite
de ontem – continuou ela – eles, provavelmente, ficaram na escola após o
término das aulas,de acordo com uma testemunha, que é uma vizinha daqui; e
acreditamos que estavam se relacionando.
Ela respirou
fundo e continuou.
- Bom, pelo
que se sabe é que, de acordo com os policiais, o Sr. James pegou a arma e
atirou na Srta. Indiana – os pais de James assustaram e soltaram um ruído –
ainda não se sabe o porquê, mas logo esse ato ele se deu conta do que havia
feito e atirou em si mesmo.
Todos na
sala abaixaram a cabeça e começaram a chorar exceto a diretora.
Alguns dias
depois, Max se levantou e tomou um banho. Vestiu uma calça social, uma camisa,
uma gravata e um blazer preto. Ainda não dormia direito e quando dormia tinha
pesadelos de que os fantasmas de seus ex-amigos tentavam levá-lo à morte.
Sempre que se lembrava daquela cena, de seus amigos mortos e sangrando, tinha
que ir ao banheiro chorar e vomitar.
Lewbert o
levou ao cemitério. Quando chegaram, ele disse:
- Me liga
quando quiser ir embora. - Ele notou a expressão do filho e complementou – Não
se preocupe filho, eles foram para um lugar melhor, agora eles estão bem.
Max olhou
com desdém e saiu do carro sem dizer nada.
No velório, quando os defuntos foram enterrados, ele jogou
uma rosa branca no túmulo desejando que não fizesse mais amigos. Ele tinha algo
dentro dele dizia que era sua culpa o ocorrido.
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