terça-feira, 25 de março de 2014

1º Capítulo: MAX

Dentro do carro, em volta de campos e uma rodovia deserta ao horizonte, Max McQueen estava descrente que a mudança de escola fosse adequada a ele. Há alguns dias seu pai, Lewbert McQueen foi despedido do emprego de escritor e assim, toda a família teria que mudar de cidade, pois ele tinha recebido uma oferta boa de emprego, ou seja, largar os costumes e se adaptar a uma nova rotina. A Sra. Elizabeth McQueen, mãe de Max, é analfabeta e por isso só faz serviços domésticos na própria casa e cuide para que os filhos tenham uma boa educação e uma carreira decente, algo que ela não teve. Max tem dezessete anos, e seu irmão, Kim, sete. Ambos ficaram tristes com a mudança, porém, foi o único método de ainda ter seus cereais e achocolatados sobre a mesa, afinal, um escritor de histórias verídicas sobre crimes brutais (Max já leu algumas crônicas escondido de seu pai), não recebe lá essas coisas.
É o ultimo ano de Max no colegial e, portanto, o ano em que ele deve passar na prova para entrar na faculdade. Ele sabe que a mudança de escola vai modificar sua vida acadêmica.
Ao decorrer da viagem, seu pai dirigia em um carro popular (que duraram dez anos o pagamento das prestações), sua mãe fazia tricô no banco ao lado do motorista, Kim brincava com um carrinho fingindo que estava dirigindo ao redor do Sistema Solar, e Max escutava uma banda de Rock nos fones de ouvido de seu celular.
A viagem era longa. A única distração era ver a paisagem exibindo as características de um verão, escutar suas músicas e pensar como será a nova vida. O sol estava se pondo. Sua mãe virou-se para Max e disse na quebra do silêncio:
- Já te matriculei na nova escola. As aulas começam amanhã.
- Tudo bem – disse ele pensativo.
Nesse meio tempo, Kim olhou para seu pai e perguntou:
- Falta muito para chegar?
- Não, a cidade fica logo depois daquela colina – respondeu o pai apontando o dedo para uma montanha cujo pico havia uma grande torre envolta de fios e uma cidade iluminada logo atrás.
Já noite, enquanto percorriam o contorno da montanha, Max pode perceber um conjunto de luzes na sua frente e franziu as sobrancelhas e perguntou:
- Qual é o nome da cidade mesmo?
- Halltown.
Algum tempo depois, passaram ao redor de restaurantes e residências movimentadas e um trânsito infernal. Eles chegaram. Entrando em uma rua, Lewbert falou animado:
- Vocês vão adorar a casa.
Simplesmente era uma mansão. Como ele conseguiu comprar aquilo? Eles não são ricos. Todos ficaram se perguntando acanhados.
- Que foi? Eu disse que tinha recebido uma oferta boa – disse o Sr. McQueen.
- Mas isso não é uma casa, é uma mansão – alertou Kim enquanto sorria não acreditando que aquele casarão a sua frente fosse de sua família.
- Esperem para ver o meu novo salário – murmurou o pai enquanto deu um sorriso leve.
Max não ficou tão satisfeito como os outros. Isso chamaria muita atenção. Os colegas da nova escola ficariam curiosos e iriam acabar falando com ele, e na verdade, o seu plano era não fazer amigo algum.

Isso aconteceu há alguns meses. Max iria para escola normalmente, e devido às provas finais da escola, ele ficou estudando até tarde da noite e, portanto, acordou com tanto sono que ele não sabia se quem o acordou era sua mãe ou a Beyoncé.
Logo, tomou banho, vestiu sua roupa e foi para a escola. Ao chegar, parou na cantina e pediu um café para despertar. A prova era tão importante que o sono foi o mínimo naquela noite, e que um café expresso valeu nada em seu vigor. Foi para a aula encontrar seu amigo James e sua amiga Indiana. Eram seus melhores amigos desde o jardim de infância e há alguns dias começaram a namorar. Só que, pelo que Max soube, isso não estava dando muito certo. James era muito autoritário, ciumento e odiava ser contrariado. Já Indiana odiava que mandassem nela.
Ainda com sono, olhos caídos e não dando a mínima para o redor dele, chegou à sala. A cena que havia foi capaz de despertar o sono, coisa que o café não pode fazer.
Não tinha ninguém na sala. Ele consultou o relógio de pulso e percebeu que pelo horário já deveria estar atrasado, mas não havia ninguém lá. Deu uma olhada pelo corredor, e estranhou que os alunos estavam cochichando e correndo num mesmo fluxo em direção aos banheiros, algo que ele não tinha visto anteriormente devido ao sono. O que deveria estar acontecendo? Era um dia de provas, e Max necessitava de realizá-la para passar na disciplina.
Ele foi para os banheiros junto ao fluxo e ao notar um aglomerado de pessoas na porta do local, sentiu um baque no peito como se se fosse em direção àquilo, o afetaria. Ele já não tinha sono algum. Continuou andando. E viu que o aglomerado era composto de alguns pais, a polícia, bombeiros, professores, a diretora e os alunos que já haviam chegado.
Os pais eram os de James e os de Indiana. Ao ver, não acreditou e começou correr. Ao chegar ficou perplexo. Os pais estavam descontrolados e se debatendo com alguns professores e policiais. Alguns alunos também estavam chocados e chorando. Abriu um vão no aglomerado e logo viu a cena.
Ao entrar no banheiro se deu conta que havia sangue por todo o chão e escorrendo pelo ralo e pias quebradas jorrando água, inundando o chão.  Havia dois corpos caídos no chão de onde era a fonte de toda aquela sujeira. Um era Indiana com os cabelos soltos e a roupa com um buraco no peito de onde vinha todo o sangue da roupa suja dela. Era um tiro. Ela tinha uma expressão de pavor. Ao seu lado estava James com um buraco de bala na própria testa, na mão, que estava sobre a barriga, ele tinha uma pistola. Max começou a gritar.
- O que aconteceu? O QUE ACONTECEU? – berrou Max enquanto os bombeiros recolhiam os corpos.
- Calma, calma – murmurou a diretora que não manifestava o mínimo de emoção – a gente vai dizer tudo a você.
- “CALMA” O CARAMBA! – respondeu ele enquanto seu rosto já estava umedecido devido ao choro que se revelou – ME CONTEM AGO... – ele sentiu algo subir dentro de si mesmo ao ver os corpos sendo retirados passando na sua frente e adquirindo uma imagem tão grotesca que nunca mais iria esquecê-la, e vomitou no chão molhado.
Limpou a boca com a manga da blusa e começou a berrar. Nunca chorou daquele jeito. E sempre que se lembrava da cena ia ao vaso sanitário e vomitava.
Após algum tempo, ao Max acalmar-se e tomar tantos copos d’água, foi para a sala da diretora e escutar o que tinha acontecido junto aos pais de seus amigos. Ao se acomodarem, a diretora explicou como se aquilo fosse normal e que nada a afetava. Uma diretora comum.
- Bom, para começar todos deve saber que a Srta. Indiana Stevens e o Sr. James Wilson estavam namorando – ela se endireitou na cadeira e todos concordaram com a cabeça, tristes.
- Na noite de ontem – continuou ela – eles, provavelmente, ficaram na escola após o término das aulas,de acordo com uma testemunha, que é uma vizinha daqui; e acreditamos que estavam se relacionando.
Ela respirou fundo e continuou.
- Bom, pelo que se sabe é que, de acordo com os policiais, o Sr. James pegou a arma e atirou na Srta. Indiana – os pais de James assustaram e soltaram um ruído – ainda não se sabe o porquê, mas logo esse ato ele se deu conta do que havia feito e atirou em si mesmo.
Todos na sala abaixaram a cabeça e começaram a chorar exceto a diretora.

Alguns dias depois, Max se levantou e tomou um banho. Vestiu uma calça social, uma camisa, uma gravata e um blazer preto. Ainda não dormia direito e quando dormia tinha pesadelos de que os fantasmas de seus ex-amigos tentavam levá-lo à morte. Sempre que se lembrava daquela cena, de seus amigos mortos e sangrando, tinha que ir ao banheiro chorar e vomitar.
Lewbert o levou ao cemitério. Quando chegaram, ele disse:
- Me liga quando quiser ir embora. - Ele notou a expressão do filho e complementou – Não se preocupe filho, eles foram para um lugar melhor, agora eles estão bem.
Max olhou com desdém e saiu do carro sem dizer nada.
No velório, quando os defuntos foram enterrados, ele jogou uma rosa branca no túmulo desejando que não fizesse mais amigos. Ele tinha algo dentro dele dizia que era sua culpa o ocorrido.

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